Este disco, importante fôlego na obra musical de Adriano, representa o produto acabado das potencialidades disponíveis à época.
As letras, do poeta Manuel da Fonseca (o autor de “Cerro Maior”), aplicam-se bem ao momento que se estava a viver: gravado antes e lançado após o 25 de Abril, quando ainda o sentimento de medo e terror se fazia sentir.
Por outro lado, a produção, a cargo de
Fausto, com quem Adriano tinha já trabalhado em
P’ró que Der e Vier, deu a este álbum a sonoridade faustiana, imediatamente reconhecível em muitas das canções que aqui se apresentam. Isso é evidente nas percussões de “O Senhor Gerente”, “No Vale Escuro” ou “Dona Abastança”. Depois há mais três importantes colaborações:
Carlos Paredes, magnífico em “Recado a Helena” e presente também na canção de abertura. Uma das poucas gravações do mestre da guitarra portuguesa em discos de outros artistas.
As outras participações são
Vitorino e
Júlio Pereira, emprestando uma instrumentação muito rica, como nunca Adriano tinha experimentado. Falo, é claro, do órgão (fundamental em “Recado a Helena” e “Dona Abastança”), dos coros e do baixo eléctrico (por exemplo, na alentejana “Cantiga de Montemaior”), e o acordeão, especialidade do também alentejano
Vitorino (em “Tejo que levas as águas”).
A canção “Recado a Helena”, com aquelas secções, talvez só tenha sido possível por, quatro anos antes, ter existido uma tal de “Coro da Primavera”, de
José Afonso. E é a canção instrumentalmente mais rica deste trabalho que mereceu a Adriano a atribuição de melhor artista do ano, prémio atribuído pelo jornal Music Week em 75.Disco-narrativa da opressão, disco de resistência e esperança para os horizontes que se abriram. Como escreveu
Manuel Alegre, Adriano foi Abril antes de Abril o ser. Mas esse importante papel vinha já muito de trás.